quarta-feira, 24 de junho de 2015

Assalto a mão armada

Dez dias no hospital. Taymara estava muito mal, internamos para acertar os medicamentos. Isso acontece, quando seus receptores se acostumam com os remédios e precisamos retira-los por um determinado tempo. Esse procedimento tem de ser feito dentro do hospital pois, ela fica muito fraca sem os remédios. Um dia antes de nossa saída, ela trocou a traqueostomia, outra coisa que é muito complicada de ser feita. Como estava com muito sangramento, tivemos alta somente no dia seguinte, por volta das 20 horas. Noite inesquecível, Elide, minha afilhada, estava em São Paulo, e pediu uma carona, se ela imaginasse pelo que iria passar, teria desistido e iria de ônibus. 

Taymara e a prima Elide

As quatro davam tchau para todos no hospital, sorriam, abraçavam, fizeram uma verdadeira bagunça, dizendo até breve pois, nessa época Taymara internava uma vez por mês. Cada internação é uma mudança pois, não saio do quarto para nada. Levo minha comida e lavo minha roupa no banheiro, como se fosse uma extensão de nossa casa pois, somos recebidas com todo carinho. Na volta, já dentro do carro, lá fomos nós. Cristiane, sempre nos apressando: "Vamos Pata, vamos sair daqui logo. Antes que de algum pepino e tenhamos que ficar." Falei: "Cris, o carregador de malas deixou sua bolsa no bagageiro, você não gosta." Ela: "Deixa para lá Pata, não vou precisar dela para nada agora, vamos embora". Dentro do carro eu ia agradecendo por tudo, Taymara me pergunta: "Mãe, a quem eu agradeço primeiro, aos amiguinhos, ou a Deus?" e eu respondo: "Não minha filha, a Deus, ele está em primeiro lugar". Entramos em uma rua que dava acesso a Avenida dos Bandeirantes, Semáforo fechado, do nada me deparo com uma arma cor prata, enorme, apontando em direção a cabeça da Cristiane, e um segundo elemento, também armado, batendo como um louco no vidro da motorista. Não sei o que deu na Cristiane, ela não atinava para o que estava acontecendo, só dizia: "Não vou comprar nada." Eu desesperada apertava sua perna e dizia: "Cris, é um assalto." Mesmo assim ela ainda não havia percebido a gravidade e não abria o vidro do carro. Apertei ainda mais forte a perna dela e gritei: "Cris é um assalto, nós vamos morrer, abre logo o vidro." Ela se vira lentamente, dá de cara com o ladrão e diz: "Ah! uma arma, estamos sendo assaltadas." então finalmente ela abriu o vidro, começou a tortura. Os marginais gritavam "Perdeu, perdeu!! passa tudo ou nós vamos entrar no carro, vamos, vamos, vamos, suas gordas." Elide desesperada, esmurrava meu ombro dizendo: "Vamos morrer, vamos morrer." Vendo o olhar de desespero da Taymara, respondi para os ladrões: "Se ficarem calmos vão levar o que quiserem." Cristiane gritava: "Cala a boca Pata, dá tudo logo." Nisto a arma já estava apontada em minha direção, naquele momento tive uma estranha serenidade, aos poucos fomos entregando as coisas, celulares, brincos, enquanto isto, um dos assaltantes ficou estático olhando para Taymara, que diz: "Não tenho um tostão furado, só tenho esta almofada, você quer?" Ele diz: "Não, não, não". Elide disse: "Não faça nada com ela, acabou de fazer uma traqueostomia (o meliante deve estar até agora procurando no dicionário o significado dessa palavra). Os assaltantes queriam as bolsas. Cris disse que a sua estava no porta-malas, perguntou se poderia ir pega-lá, o ladrão, revoltado gritou: "Tá tirando uma com a minha cara sua balofa, vocês vão todas morrer, dá essa que está no chão." Não tinha dinheiro mas, dentro dela, haviam dois cheques em branco assinados por meu marido. Olhei bem nos olhos do meliante, Cristiane falou: "Dá logo Pata." Eu falei: "Não vou dar, se você não me matar, meu marido me mata quando eu chegar em casa, pode atirar se quiser." A rua estava repleta de carros mas, ninguém moveu uma palha para nos ajudar. Só consigo me recordar do ódio nos olhos deles. O mais desatinado dos dois dizia repetidamente: "Vou atirar, vou atirar" Após saber que não iam levar minha bolsa um deles virou e disse ao outro: "Vamos embora, já fizemos a limpa, essas gordas são loucas." Foram momentos de terror. Eles saíram andando calmamente, como se nada tivesse acontecido. Meus braços doeram por meses de tanto terem sido esmurrados por Elide. Ao chegarmos em casa recebemos calorosos abraços de Felipe e Joaquim, que disseram: "Que bom que está tudo bem. Não saberíamos viver a vida sem vocês." 

2 comentários:

  1. - Lamentável a condição de segurança publica que vivemos em nosso pais, um dos pontos mais criticados por todos os brasileiros de um modo mais especifico. Infelizmente temos que passar por um teste de sobrevivência todos os dias quando saímos de casa, já passei por uma situação parecida com essa , e nossa foi tão torturante , tive que procurar um psicólogo, e não foi fácil , pq me causou um trauma psicológico , horrível...
    Mas graças a Deus que ocorreu tudo bem, e nada de ruim se concretizou. Em momentos como esse se passam mil coisas na cabeça , imagino como todas se sentiram.
    Enfim, só temos a agradecer por mais um dia ^^

    Tia, dá um abraço meu na Taymara ><
    Beijo a todos ...
    Até depois!

    #orandoporela

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  2. Realmente é uma situação complicada. Mas, como você disse, graças a Deus tudo não passou de um susto, e de mais uma história para contarmos. Obrigado pelas orações.

    Beijos

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